saiba que eu tenho approach

09 maio, 2007

Livramento

Livramento de Nossa Senhora (conhecida na região também como Livramento de Brumado) é uma cidade que fica localizada no sudoeste da Bahia, a pouco mais de 200 Km de Vitória da Conquista, pertinho de Rio de Contas. Praticamente na Chapada Diamantina, já na estrada para lá (como em boa parte da região) é possível ver as bonitas serras da Chapada e arredores.

A cachoeira-de-Livramento-que-eu-não-sei-o-nome

Eu talvez nunca conheceria Livramento se não tivesse parte da família lá, ou talvez conheceria por causa de Rio de Contas, que é mais famosa por suas belezas. O Rio de Contas, que dá nome à cidade e passa pela região, é que forma boa parte das atrações das duas cidades, como a Cachoeira do Fraga, a Cachoeira do Raposo e a grande queda d’água em Livramento, cujo nome eu vergonhosamente desconheço (fica a cargo dos googlemaníacos trazer a informação).

O que fazer em Livramento? Bom, a cidade é pacata, a falta de transporte público coletivo favoreceu a proliferação de motos que é responsável por muitas cabeças rachadas na UTI do Hospital Geral de Vitória da Conquista. O pessoal lá gosta de uma festinha nos fins de semana, a internet é barata (R$ 1,oo a hora), mas lenta, e não faltam LAN houses. Livramento é conhecida pela grande produção de frutas para exportação, principalmente manga. Porém, Juazeiro também anda produzindo bem na área e o pessoal de lá não está mais ganhando rios de dinheiro com a manga, para infelicidade minha, que estava pensando em fuçar alguma terra de herança familiar e começar a minha própria produção...

Viveiro de mudas de mangueira: toda vez que vamos lá, meu pai cisma de levar uma muda para casa só para assassinar por desidratação em um mês

Realmente espero que este post não seja tomado como qualquer tentativa séria de estimular o turismo a Livramento, já que em seguida, falarei da minha parca experiência sobre onde comer na cidade. Como tenho várias tias que lutam entre si para me hospedar quando estou lá, sempre como a deliciosa comida que elas preparam, cada dia em uma casa. Porém, quando estou com sorte, saio à noite e me bato com uma pizzaria chamada Águas Claras, que me apresentou uma pizza de Marguerita com tomate, azeitona, ovo e o queijo forrando tudo. A segunda opção? Um local chamado Boca Nervosa, que infelizmente não pude conhecer para melhor informar o interessado em conhecer a cidade que lê este humilde relato.

Infrações na língua inglesa também não serão toleradas

Bem, Livramento ainda tem uma trilha boa que é a antiga Estrada Real ou Estrada da Rainha, que vai até Rio de Contas e era usada quando não havia rodovia para lá. A primeira parte é uma subida em zigue-zague pela montanha, um pouco pesada; mas, uma vez no topo, você tem acesso à grande cachoeira pela parte de cima, de onde se vê toda a cidade. Andando um pouco mais, há a Cachoeira do Raposo, o Raposo (uma pousada agradável com piscina, uma bonita área e acesso direto à trilha), e chegando em Rio de Contas há a Cachoeira do Fraga, ótima para banho com suas águas geladíssimas e suas quedas mortais.

Não tentem isso em casa

30 abril, 2007

Este post marca a minha iniciação na fotografia, o que significa que praticamente só serei visto em público com minha máquina pendurada no pescoço, à procura de animais mutantes exóticos, catástrofes naturais, OVNIs e cometas apocalípticos que virão para destruir a terra totalmente. Serei imbatível na captura de eventos emocionantes que só acontecem uma única vez no universo.

Por enquanto, pela absoluta falta de cometas em rota de colisão, vocês ficarão apenas com os registros da minha saída para visitas domiciliares do PSF. Logo de saída, esta pérola:


Se não fosse pela placa salvadora, jamais reconheceria um cão da raça Pitibú

Hora de pesar os guris:


As crianças curtem mesmo esse negócio de pesagem

Os ídolos sertanejos que fazem a loucura da mulherada:


O único deles de que eu não sou fã total é o Van Damme (ele canta muito mal)

Porém, o mundo ainda tem salvação:


Fotos e Operação de Repressão aos Crimes Linguísticos: Paulo Nunes



18 abril, 2007

Vendedor de colchões

— O senhor já teve a oportunidade de conhecer os novos colchões magnéticos Sonomag?
— Sono-o-quê?

Ele me entrega o prospecto do seu produto.

A SONOMAG foi buscar através de um processo científico altamente sofisticado o que nós chamamos de INFRAVEL, um dos maiores avanços da tecnologia, essa mistura fantástica de platina, titânio e alumínio, que é um dos muitos tipos de raios emitidos pelo sol nas primeiras horas da manhã...

(Como assim “essa mistura fantástica de platina, titânio e alumínio, QUE É um dos muitos tipos de raios emitidos pelo sol nas primeiras horas da manhã”? Desde quando o sol emite raios de ligas metálicas?)
...esses raios emitem ondas eletromagnéticas em torno de 4 a 14 microns “um tipo de raio INFRAVEL” idênticas aos raios infravermelho longo, eles fornecem benefícios reais e substâncias à saúde, absolutamente sem nenhum tipo de perigo associados a outros tipos de radiações.

(Tem certeza? Um colchão carregado como esse, com mais metais juntos que a Orquestra Sinfônica de Berlim! Será que esse tal de INFRAVEL não queima os rins da pessoa, destrói os espermatozóides, coisa do tipo?)
Principais benefícios: Elimina as toxinas do organismo através da quebra de moléculas de água no corpo humano, com a melhora da resistência e da circulação sangüínea,...

(QUEBRA DAS MOLÉCULAS DE ÁGUA? Que blasfêmia é essa?)
... renovação celular, redução do ácido lático e prevenção do envelhecimento precoce, proporcionando uma pele mais bonita e saudável ,e reduz a quantidade excessiva de acidez aliviando as dores musculares, enxaquecas e cólicas menstruais.

Terminei de ler e comecei as negociações.

— Poxa... Eu vou precisar reforçar a estrutura da casa para agüentar o peso desse colchão?
— O que importa? O colchão, com todos estes benefícios de tecnologia de ponta, fará você dormir o equivalente a doze horas em apenas quatro!
— Opa, agora isso me interessou! E vocês têm algum estudo sobre, você sabe, se eu quiser trazer uma menina para testar o colchão comigo... Será que ela ficaria magnetizada e infravermelhizada também?
— Você não sabe do que esse colchão é capaz!
— Vamos então ao que interessa! Me diga, como é que eu pago? Um colchão desses não deve sair por menos de quinhentos reais, não é? Mas eu tenho certeza que vocês têm um preço camarada pra quem quer comprar à vista...
— Senhor, um colchão magnífico como este é montado sobre uma chapa de celulose resinada, uma base de poliestireno, uma chapa laminada, poliuretano imprensado, uma pastilha de INFRAVEL cravejada de magnetos, um perfilado Tech-Foam e tudo isso em um conjunto de poliestireno resistente!
— Tem alguma versão dele com metade das chapas?
— Impossível sem alterar a qualidade indiscutível do produto.
— E quanto é que fica?
— Ele custa nada mais que três mil e quinhentos reais.
— Er... Vamos deixar esta conversa para outra hora? Acho que alguém está me chamando lá na recepção.
— Como assim?
— Bem, é que eu realmente não estou preparado para uma tecnologia tão avançada... Quem sabe quando lançarem os colchões de plutônio enriquecido?

Aura

— Mas Doutor, o senhor tem uma coisa que brilha, já te disseram antes que a aura de Jesus está ao seu redor?
— Sério? Mas... isso tem cura?

14 abril, 2007

Horóscopo

Falando comigo no msn, uma menina inventa de me dizer a seguinte coisa (obviamente vinda do bendito orkut) :

— "Sorte do dia: você terá um dia maravilhoso e encontrará alguém querido que não via há tempos".
— O que é isso?
— É do orkut!
— Por que eu nunca vi a seguinte previsão: "hoje você dará o último passo para o abismo da esquizofrenia e jamais se curará"?
— Hahahaha... A sorte do dia é pra ser alguma coisa boa!
— Bom, eu acho que o orkut deve começar a pensar nos traficantes de drogas que acessam o site. "Hoje a polícia invadirá a sua boca de fumo" seria mais verossímil que "a sua vida será longa e produtiva".
— Olha, eu tenho um site de horóscopo que é legal, pra mim sempre funciona, é super científico, você tem que dar os dados completos, a previsão é profissional...
— Profissional? Vou tentar.

É claro que eu fui lá de sacanagem. Meu plano foi o seguinte: coloquei todos os meus dados corretos, data de nascimento, hora, nome dos pais, quando caguei a primeira vez (dados estes que uma mãe absolutamente neurótica como a minha obviamente teria anotados num caderninho até hoje), todos estes acontecimentos memoráveis que supostamente definirão quem você será. Aí, obtive uma descrição completamente precisa da minha vida no período, que poderia significar desde uma dor de cabeça leve por causa de desentendimentos familiares até uma traição da namorada seguida de atropelamento e amputação dos braços. Em seguida, modifiquei o meu cadastro e alterei a minha hora de nascimento em 10 minutos. Nova previsão, com grande diferença. Por conta de 10 míseros minutos, eu até poderia ganhar na loteria! Fiquei realmente intrigado com isso.

— Venha cá, me diga uma coisa...
— Sim?
— Fiz meu cadastro no site de astrologia.
— Fez? Não é fantástico?
— É! Só fiquei com uma dúvida: será que a hora que eu nasci está certa?
— Como assim?
— Bom, é que eu mudei 10 minutos na minha data de nascimento e veio tudo diferente!
— É claro!
— Sim, mas como é que eu vou saber que eu nasci naquela hora mesmo?
— Não tá na sua certidão de nascimento?
— Tá. Mas tá um horário bem redondo, sabe, tenho uma ligeira desconfiança de que algum preguiçoso irresponsavelmente arredondou o número, não sabendo que arruinaria todas as minhas possibilidades com a astrologia no futuro! Sem contar os segundos, na certidão de nascimento não tem os segundos!!!
— E daí?
— E daí? Os segundos são importantíssimos! Sem contar as frações de segundo, com elas eu poderia determinar exatamente cada coisa da minha vida!!! Como é que será que isso é fixado, a hora do nascimento conta quando a cabeça sai toda, quando o corpo sai todo, ou quando corta o cordão umbilical? E se o parto for pélvico, conta a hora da saída da cabeça ou da bunda?
— Pára de maluquice, cara, os segundos não contam! Só os minutos mesmo!
— Certo, mas se o relógio da maternidade estiver atrasado? Será que pessoas que nascem no horário de verão lucram alguma coisa com isso?
— Rapaz...
— Meu Deus!!! Pior ainda! Se o relógio pode atrasar, qual será o relógio certo? Será que é um daqueles relógios atômicos que atrasam um segundo a cada bilhão de anos e que só existem na Alemanha? Já existe um relógio padrão da astrologia? Será que os obstetras já sabem disso? Temos que instituir o fuso horário astrológico, pra que todos tenham o direito de ter um mapa astral fidedigno!

A garota, nessa altura, já tinha desistido da conversa, e pareceu até meio aborrecida... Será que eu disse algo errado? Acho que ela devia estar num mau dia, sei lá, a lua deveria estar numa casa do zodíaco proibida, tipo uma rixa entre as constelações, sei lá...

13 abril, 2007

Fasemos frete

Mesmo no Capão, nossos oficiais à paisana realizaram outra operação bem-sucedida do Departamento de Polícia Ortográfica.


Mais uma apreensão de material lingüístico irregular realizada com a ajuda do nosso fotógrafo oficial Linsmar Dancon

10 abril, 2007

No Capão vaza água pelo ladrão - Parte II

Segundo dia

Tendo tomado o magnífico café da manhã da nossa pousada capônica, onde tudo é natural e orgânico (inclusive os pesticidas organofosforados usados nas frutas), partimos em direção à Cachoeira da Purificação, onde lavaríamos todos os pecados da alma e o produto de alguns dias sem tomar banho. O acesso é pela mesma estrada que leva ao Circo do Capão e pode ser feito na sua maior parte de carro, porém, é um trecho um pouco difícil, com subidas que ficam inacessíveis caso chova. Estando a pé, prepare-se para uma boa caminhada antes de chegar à trilha de fato.

A trilha que leva à Cachoeira da Purificação é do meu tipo predileto: caminho acidentado entre a mata que margeia o rio, com alguns trechos onde se atravessa o leito pelas pedras. O caminho pode ser feito todo pelo leito do rio, sobre as pedras, mas a caminhada se torna muito mais lenta e um pouco mais perigosa. Trilhas deste tipo são geralmente protegidas do sol forte, por causa da vegetação; quase planas, com trechos de escalada rápida com o auxílio de plantas como apoio e corrimão. São mais leves que grandes caminhadas abertas ou subidas de montanha, como na Cachoeira da Fumaça, exigindo mais equilíbrio e atenção que resistência aeróbica. Fizemos a trilha com um pessoal que já havia estado no local anteriormente, porém, caso seja a primeira vez, é altamente recomendado que se contrate um guia da região (ACV-VC: Associação de Condutores de Visitantes do Vale do Capão, o melhor lugar para informações sobre os passeios e atrações turísticas do local).

Águas congelantes


A queda da Cachoeira da Purificação forma um poço de cerca de 2,5 metros de profundidade no seu ponto mais central, com pedras no leito. A queda d’água não ultrapassa a altura de 5 metros, o ambiente é bonito, com uma ótima área para banho, de águas geladas. Como o acesso não é tão fácil, geralmente o local não superlota, mas você certamente terá companhia caso se trate de feriados nacionais. Ainda há uma trilha lateral à área do poço que leva à parte superior da cachoeira e a mais uma queda d’água acima, chamada de Cachoeira dos Duendes, porém é um trecho mais difícil e íngreme, só satisfazendo aos mais aventureiros, sem grandes atrativos.

Muitos desocupados vêm às águas da Purificação


Mais tarde, com as heranças de dois dias de trilha (calos e ferimentos nos pés), descansamos à tarde para conferir a noite do Capão. Objetivos da noite: comer todas as iguarias da região e conseguir maconha pura orgânica, sem os produtos malignos que o ser humano usa para entorpecer a sua mente.

Comemos nas duas noites em pizzarias diferentes, a primeira não terá seu nome mencionado gratuitamente como punição ao fato de nos deixarem esperando por mais de 30 minutos por nossa pizza, além de descobrirmos que faltou a rúcula num dos sabores. Porém, a pizza é boa. A outra, uma pizzaria de ambiente rústico, com mesas de pedra e sem talheres: a pizza vem cortada em fatias que lembram um brinquedo geométrico mosaico chamado Tangram. É claro que a explicação pra isso teria de ser algo exotérico tipo mandalas ou outra coisa que envolve hipnose de massas e meditação vegetativa, só que, quando a pizza chega, meditar é a última coisa que se quer: o local só oferece duas opções de sabores, o tradicional, que tem cenoura e molho pesto (além de outras coisas impronunciáveis) e a doce, que deve ter banana, fora algo mais que não me ocorre agora lembrar. A pizza é deliciosa, massa fina e crocante, come-se de mão, e além de azeite e molho shoyo (nada de meninos sebosos que entopem a pizza de maionese e catchup, artigos inexistentes no local) é possível acrescentar um mel especial saboroso, cujo segredo não revelarei para não estragar a surpresa de quem lá se aventurar.

Ainda há um local onde se come bem na cidade, que é uma casa de massas chamada Casa das Fadas, fica na estrada entre Palmeiras e Capão, já perto do vale. É difícil encontrar o local exato à noite, já que não há iluminação na estrada, mas o local é de primeira categoria, com uma lareira e um atendimento impecável por parte dos próprios donos do estabelecimento. Coisa chique, porém se paga muito menos que se pagaria numa cidade grande. E por fim, a iguaria mais exótica: o pastel de palmito de jaca, achado em todo o vale. Só não me pergunte o que é palmito de jaca.

No centro da vila, barraquinhas de hippies e rastafaris, vendendo as onipresentes bugingangas como colares de sementes, brincos, cristais, sabonetes de argila da região, roupas estampadas com Che Guevara, Buda e Timothy Leary, etc. Um grupo aqui tocando violão, outro acolá com flautas, um rapaz salta de vez em quando fazendo uma performance instantânea e improvisada de arte pura do Capão... Nada de carros com a porta do fundo aberta tocando Asa de Águia, e para garantir a paz local, cada vez que alguém ameaça exibir suas caixas de som superpotentes soa um alarme ensurdecedor e desce um time da SWAT que apreende imediatamente o veículo e detém os infratores para um longo interrogatório.

Todas as fotos desta série de posts foram tiradas por Linsmar Dancon


Só não consegui achar maconha. Será que tenho cara de polícia ou de repórter do Fantástico?

09 abril, 2007

No Capão vaza água pelo ladrão - Parte I

Primeiro dia

O Vale do Capão é um povoado pertencente à cidade de Palmeiras (a 20 Km da sede), na Chapada Diamantina. Quem vem de Salvador ou Feira de Santana em direção a Lençóis precisa andar mais um pouquinho pela BR 242 até achar a entrada de Palmeiras. Nada que um GPS não resolva.

O lugar é bastante atraente, como muitos da Chapada, com suas serras e cachoeiras que não acabam mais. Uma vez lá, será mais fácil encontrar paulistas, cariocas, sulistas, espanhóis, americanos, franceses, alemães, hindus, árabes, ucranianos, neo-zelandeses e zirconianos (nessa respectiva ordem) do que baianos. É que todos os remanescentes do movimento hippie, os desiludidos da vida, eremitas e reprovados das escolas de arte de todo o mundo vão ao Capão para ter uma vida roots, criando arte alternativa em contato com a natureza, com fontes inesgotáveis de água mineral, palmito de jaca e maconha. O Capão é a reserva ecológica mundial de rastafaris em processo de extinção, e somente lá você terá a oportunidade de presenciar performances brilhantes de homens barbudos vestidos de tanguinha de tigre correndo em círculos com tochas de fogo nas mãos, bradando o significado transcendental da arte.

Para a nossa total segurança, tiramos esta foto presos a cabos de aço transparentes



No primeiro dia, decidimos ir à Cachoeira da Fumaça. O caminho é uma trilha aberta na montanha, com cerca de 40 a 60 minutos de subida pesada (estejam em dia com seu cardiologista — ou com seu agente funerário) e mais uma hora de terreno praticamente plano. Lá, uma queda livre de 360m, onde, quando o rio não está muito cheio, a corrente de água desvanece no meio do ar por causa da força do vento. O espetáculo é fantástico, porém não pudemos ver devido à escassez de chuvas no período. Para ver a queda d’água é preciso deitar-se e arrastar-se até a borda do penhasco, pois o local tem muitos ventos maldosos...

Diálogos registrados no local:

Garota — Poxa, é aqui que quando está caindo água, o vento faz a água parar no meio do ar, não é?
Eu — É verdade, sem contar quando o vento faz a cachoeira correr ao contrário. Isso só acontece aqui na Fumaça e quando o Shiryu dos Cavaleiros do Zodíaco dá seu golpe Cólera do Dragão nas Cataratas de Rozan, em nenhum lugar mais.




Tia de 75 quilos subindo a montanha ao meio-dia — Falta muito, meu filho?
Eu, já na volta — Não, tia, coragem! Só falta agora a Ladeira da Angina e a Subida do Infarto, depois disso a senhora chega na cachoeira!

Later on the day... Estivemos na Cachoeira do Riachinho, a cerca de 4 Km do centro da vila, um lugar ótimo para um banho e natação. Na ida, demos carona a duas americanas, Andrea e Serena, amores de pessoa, que estranharam a miudez dos biquínis das mulheres e a falta de pêlos nos peitos masculinos anabolizados.



"Finja que não está olhando agora: eu fico com o mais alto, você com o outro"



Não perca, na próxima parte: a Cachoeira da Purificação e a crise mundial do abastecimento caponês de maconha.

21 março, 2007

Raio-Z

Estava muito concentrado em bater pregos no armário e batendo na tábua mesmo, na falta de pregos, justamente para não ouvir os comentários sobre a novela misturados com o som da TV no último volume. O programa acabou, o pessoal se recolheu, e um rapaz aproveitou o espanto casual que mostrei quando me disse que era chamado também de Raio-X para entrar no discurso sobre o valor da sua profissão.

— Cara, o Técnico de Radiologia é uma profissão muito importante, só que não é dado o valor.
— É verdade, principalmente pela quantidade de radiação que ele recebe todos os dias, já vi gente crescendo uma segunda cabeça por causa disso.
— É verdade, cara. O raio-X é os olhos da medicina. Não conheço um médico que seja capaz de fazer o exame que eu faço. Sem o raio-X, como é que daria pra enxergar o pulmão, os ossos...
— Bom, a gente abre às vezes. É meio nojento, mas é colorido, pelo menos não é preto e branco!
— Não, rapaz, mas é realmente uma profissão fundamental na humanidade, parece que tem numa revista aí que é a invenção mais importante dos últimos tempos.

Vi que ele não entendeu que eu estava sacaneando e iria continuar hipertrofiando a importância da sua função, eu queria me concentrar no meu armário. Ou talvez as máquinas de raio-X sejam geringonças complicadíssimas que só poucos iluminados podem operar, graças a Deus que eles existem. De todo jeito, não tinha a menor intenção de saber.

— Pois é, colega, o raio x...
— Rapaz, isso vai acabar.
— Acabar?
— É. Você não tá sabendo não?
— Do quê?
— O raio-X já é uma coisa obsoleta. Os técnicos de radiologia vão ficar todos desempregados quando as primeiras máquinas de Raio-Z chegarem na cidade.
— Raio-Z? Cê tá curtindo comigo, cara?
— É sério! Pensei que você sabia, senão nem tinha te contado. É triste, mas acho melhor buscar outra profissão logo.
— Mas eu posso tomar outro curso...
— Nem adianta, as máquinas de raio-Z são todas automáticas, viram que a radiografia é algo muito importante pra ser operado por seres humanos. Você sabe, às vezes você tá com uma dor de barriga, ou brigou com a namorada, aí sua energia interfere nos raios-X, e aí tome uma bomba de raios na pessoa, é uma tragédia. O raio-Z é tão potente que atravessa até o chumbo, atravessa até mesmo o próprio raio-X.
— Mas se ele atravessa tudo, que material vai prestar pra ser o filme, a chapa que sai a imagem?
— Aí eu já não posso contar. É segredo de mercado.
— Conta aí, cara, eu tenho que me atualizar! Não posso perder esse emprego!
— Não, pense da seguinte forma: quando, no futuro, alguém construir um monumento às máquinas de raio-X, que foram as pioneiras no desenvolvimento da civilização, os antigos operadores serão a história viva, talvez seu nome saia até em algum livro!

Foi aí ele disse o que eu queria ouvir:

— Que nada, rapaz! Essa profissão é uma merda, você fica apertando um botão o dia todo, qualquer macaco faria isso! A gente ainda tem que tomar a porcaria de um curso, só pra dar dinheiro praqueles sacanas! Quem liga pra tomar raio-X na cara, todo mundo toma mesmo, quer dizer, eu aprendi lá no curso que os raio-X tão aí rolando nas esquinas, em todo lugar mesmo! E todo mundo vai morrer, não importa de quê. Do jeito que eu como água, nem vai demorar muito... Eu só trabalho ainda nessa viagem porque ainda não achei nada melhor, tá ligado? Mas aí, se você me der o canal do raio-Z quem sabe eu posso ficar na frente do mercado...

— Infelizmente eu não posso falar. É o tipo de informação que, se espalhar, cai a bolsa de valores da China, primeiro, aí no outro dia o gelo dos pólos derrete e quando procurarem quem foi que espalhou, eu tô perdido. Foi mal...

Ele saiu cabisbaixo pra dormir. Silêncio total. Achei uns pregos no chão, e aí pensei que poderia me vingar pelos tantos dias de TV altíssima na hora do meu sono...

04 março, 2007

Déjà vu

Déjà vu? Não, achei mesmo que já tinha visto algo assim antes, mas foi apenas a lembrança do trailer, que vi há alguns meses atrás.

Um filme interessante e que entretém. Porém, usa um argumento manjado sobre viagens no tempo, e antes da questão da viagem no tempo ser revelada, ainda parece pior (como em Inimigo do Estado), como todo filme Hollywoodiano que dá voz à paranóia americana de que o governo tem alguma forma louca de controle de todas as vidas, incluindo satélites e câmeras de vigilância impossíveis que conseguem ver tudo em 360 graus e cobrir todos os ângulos de uma cena.


Sempre saio destes filmes com um nó na cabeça com estas possibilidades físicas malucas e mal-exploradas, acho que isso acontece desde De volta para o futuro. Tipo: como pode haver um evento no presente que depende de que alguém volte do futuro para que ele aconteça? Você segue a linha do tempo normal, porém percebe que o seu presente só existe porque um eu do futuro voltou no tempo e ajeitou as coisas para que ele fosse possível, isto é, para que haja um certo presente, precisa haver antes um determinado futuro (!?!). Mas isso é coisa de gente pentelha, que não pode assistir a um filme em paz, sem deixar de lado coisas inúteis como lógica e física.


Saí do filme e notei na entrada da sala uma certa confusão. Em todo tipo de confusão sempre tem alguém falando ao celular, como se todos os bosta-secas do mundo tivessem advogados prontos a resolver os seus problemas à base da intimidação. Era mais divertido quando as pessoas eram menos metidas a importantes e resolviam as coisas na porrada.

Mas ao que parece, houve mesmo porrada! Um pentelho pré-adolescente pirraçou o sujeito até que ele não agüentou e sentou a mão no moleque. Crianças pirracentas geralmente têm pais complacentes; e parecem invencíveis, já que os únicos com direito legal de pô-los no seu lugar são um fracasso total no assunto. Mais um déjà vu. Eu já não gostava de crianças desde que eu era criança.

02 março, 2007


Gazes preza não é

Nosso amigo Zaratustra diria: Ter toda a gente o direito de aprender a ler é coisa que estropia, não só a letra mas o pensamento.

Mas, sem isso, não teríamos material para a mais nova série de posts deste blog, que começa com uma singela cartinha:

Dotor eu pesso que o senhor passa um remédio para minhas perna que está ichada.

E um remédio para minha barriga que eu sento uma gastura e tem vez que doi também que eu nem consigo comer muito pra icher

Gazes preza não é

Se o senhor não intendeu vem aqui na minha casa eu não fui lá porque eu não pude

25 fevereiro, 2007

Manhattan

A maneira Woody Alleneriana-neurótica de elogiar uma mulher que eu gostaria de ter dito:

(Indo de táxi para o restaurante)
"Você está tão bonita que eu mal consigo olhar para o taxímetro!"
Em Manhattan, 1979.

19 fevereiro, 2007

Daily Nietzsche

Sempre quis citar Nietzsche periodicamente nos meus blogs; no entanto, só havia espaço para bazófia. Nada que fosse incompatível, porém eu me resguardava de fazer-me parecido com certos autores de blogs que citam suas ladainhas repetidamente e não têm conteúdo próprio. Talvez eu mesmo corra este perigo e não queria deixá-lo cristalizado em citações periódicas, já que posso definir-me como citador compulsivo (de alguns poucos autores); ou apenas ainda não passei da fase das influências. De qualquer forma, ainda é forte o impulso de incorporar no meu sangue as palavras e a força de Nietzsche, vou relendo os livros e publicando suas provocações.

Eis a primeira: O solitário fala (Gaia Ciência, § 364)

A arte de andar com pessoas assenta fundamentalmente na capacidade (que requer longo treino) com que se é capaz de ingerir um repasto cuja cozinha não inspira nenhuma confiança. Caso sentemos à mesa com uma fome de lobo, tudo vai bem (...) Mas não se possui esta voracidade de lobo quando se quer! Ah, como o próximo é duro de digerir!

14 fevereiro, 2007

Quentinha

Tocou a minha campainha uma vizinha, daquelas que nunca aparece a não ser para pedir algum favor. Ao invés disso, bem que poderiam aparecer de vez em quando ofertas de moedas de ouro, oferendas de virgens, coisas simples, mas importantes, que a falta de humanidade das pessoas eliminou da civilização.

— Oi...
— Sim?
— É que a minha vizinha tá passando mal, eu já liguei pro SAMU 192 e eles disseram que não vinham buscar, ela não pode beber, usa remédio controlado...
— Pera que eu vou te dizer o hospital pra onde você vai levá-la.
— Você não vem nem dar uma olhada nela?

Tive que ir. A mulher era horrível estava absolutamente chapada; me ocorreu imaginar como sobreviveram milhões de bêbados nos milênios da humanidade sem o SAMU 192. A mulher que estava inconsciente prontamente acordou (eu ainda acho que os bêbados têm um sexto sentido para a presença de médicos e afins, ou talvez seja a iminência de uma injeção). Começou a falar as baboseiras que primeiro vieram à mente, nomeou sua família até a décima quinta geração antepassada e depois foi me preparar um prato de caruru com vatapá. Eu dispensei as vizinhas desesperadas e comi a refeição que ela me ofereceu, não foi nem uma questão de educação: eu estava faminto mesmo.

Gostei tanto que voltei no outro dia para encomendar o almoço, já que ela fornecia quentinhas.

— Você fornece almoço, não é?
— É. Você é o médico?
— Sou, sim.
— Não vou cobrar de você, muito obrigado por ter vindo ontem!
— Cobre! Eu nem queria vir aqui!
— (Risos) Tá certo. Você come tudo, não é?
— Como!

Ela deu um sorrisinho maroto e eu imediatamente me arrependi de ter feito uma declaração de caráter tão indiscriminadamente generalista. Corrigi no reflexo, mas não sem me arrepender mais ainda:

— Quer dizer, você, não.

12 fevereiro, 2007

Caraívas

Caraívas não é Caraíbas, é bom deixar claro de início.

É uma cidade pequena, mas pode ser achada no mapa (da Bahia, é claro). Fica perto de um povoado chamado Monte Pascoal, um pouco abaixo de Trancoso e um pouco acima de Prado, no litoral sul. Para os que ainda não acharam, Trancoso fica perto de Arraial d'ajuda e de Porto Seguro; e para os que não acharam mesmo assim, sempre existem o Google, a Igreja Universal do Reino de Deus e transplantes de cérebro, não necessariamente nesta ordem de eficiência.

Caraívas é uma penisulazinha entre o rio Caraíva (quem imaginaria?) e o oceano Atlântico, não possui fornecimento regular de energia elétrica e felizmente só é possível chegar lá de barco ou nadando. Como a probabilidade de um pagodeiro conseguir atravessar o rio com um gerador de energia elétrica e caixas de som nas costas é pouco animadora, nem há qualquer acesso para a cidade por terra, você certamente não irá encontrar lá um Chevete modelo 1975 com equipamento de som de 1000 Watts de potência no volume máximo tocando Arrocha ou outro tipo revolucionário de música baiana.



Há atiradores de plantão contra nadadores mal-intencionados que desejem entrar na cidade


Muitos turistas? Sim. Há sempre um pessoal que parece que nunca viu capoeira na vida, aí forma uma roda enorme de gente tirando foto, você sabe como é. Mas é tudo muito tranqüilo, sem muita badalação. Comida boa, restaurantes de frente para o rio, e uma noite maravilhosa com todas as estrelas do céu; você talvez precise de uma lanterna para achar a sua pousada de volta, mas é maravilhosamente aconchegante andar pela rua de areia paralela ao rio entre os barzinhos, restaurantes e lojinhas que põem luminárias por todo o caminho, velas dentro de sacos de papel, e pessoas, na proporção ideal: nem um mudaréu de gente, mas também não é uma ilha de eremitas-hippies que ainda está na década de 70.

Você precisa ver isso à noite


Quer dizer, lá tem até internet! Mas quem precisa de internet em Caraívas? Principalmente porque ela custa R$ 8,00 por hora e só funciona por cerca de 3 horas, já que tudo lá é limitado ao tempo que os geradores de energia, a maioria de fonte solar, podem ficar ligados ininterruptamente. Mas se você é um especulador da Bolsa de Valores e precisa ganhar milhões de reais na última variação das ações da Vale do Rio doce, não é preciso ir à cidade mais próxima para mandar um e-mail para o seu corretor.

Fora isso tudo, ainda tem um pequeno detalhe: praias maravilhosas, água limpíssima e um rio legal pra tomar banho.


Fotos por: Linsmar Dancon

Assim, finalizo com meu conselho pessoal: não vá pra Caraívas, lá é horrível!

11 fevereiro, 2007

Labirinto

Eu não ando viajando muito, mas sempre tive cara-de-pau suficiente pra puxar conversa com os outros no caminho, nos ônibus, nas lanchonetes, onde quer que seja. Nem sempre o papo é bom, mas nas poltronas do lado quase sempre a conversa é de ruim de arrepiar, contando ainda com a generosidade dos interlocutores, que não guardam pra si a má prosa e fazem todos ouvirem.

Mas uma vez eu tive a sorte de encontrar um homem engraçado, mais velho; na época eu tinha uns 12 anos e viajava com meus pais. A gente conversou sobre um monte de coisa, até que ele começou a contar uma estória assim:

"Garoto, você tem cara de que gosta de pensar na vida. Pois eu estou pensando nela há uns 50 anos e criei uma estória pra explicar o que é a nossa vida. Preste atenção: muita gente diz que o mundo é um inferno, outros dizem que é um paraíso, outros que é uma ilusão, outros que é somente dor e sofrimento, e por aí vai. Mas acontece que cada um vê apenas o que seus olhos podem olhar, e geralmente os olhos das pessoas olham sempre para as mesmas coisas, as olham por tanto tempo que não conseguem enxergar mais nada, e por isso elas têm tanta certeza de que estão certas.

Eu, porém, nunca consegui passar tempo demais olhando pra uma coisa só. Não sei, talvez não tenha sido feito pra parar, como disse Raul Seixas, 'como as pedras imóveis na praia'. Nunca tive objetivo na vida, e tive até muita sorte, pois sem o menor esforço eu tive mais oportunidade que a maioria das pessoas têm. Mas enquanto todos tinham um objetivo e acabavam parando quando o encontravam, eu continuava caminhando, sem saber o que fazer direito, e todos ficavam para trás. As pessoas não te perdoam por isso, acham que você é ingrato ou arrogante, logo eu, que nunca tive nada para provocar ressentimento em ninguém... Nunca fui importante ou famoso, nem ostentava qualquer tipo de coisa que desse inveja. Mas as pessoas simplesmente não gostam de ser deixadas para trás, principalmente se for por alguém como eu. Eu nunca pude evitar, pois, fatalmente, todo mundo acaba se dando por satisfeito na vida, seja com uma esposa, filhos ou a profissão miserável; uns são mais modestos e querem apenas ter um carro para adorar para o resto da vida. Outros não se encontram em nada disso e acham a igreja. Mas eles todos, se gostam um pouco de você, nunca te perdoarão se você continuar caminhando. É uma má lembrança, perceber que está parado.

Mas todos os andarilhos, como eu, um dia se perguntam se realmente haverá um lugar onde chegar. Porque eu não ando para deixar os outros para trás, e sim para chegar no meu lugar, e tomara que haja alguém lá além de mim, ou pelo menos alguém que caminhe comigo por um tempo. A vida vai passando, a gente vai sempre olhando pra frente, e quando dá de olhar para trás, eta que já foi um monte de tempo!, já passou um monte de coisa, já conhecemos tanta gente que nem dava pra lembrar direito...

Foi aí que eu comecei a dizer que a vida é um labirinto. Todos procuram uma saída, e muitos encontram, mas o que a maioria não vê é que nenhuma delas é uma saída de verdade. É como se cada uma fosse um oásis no meio do labirinto. Para uma grande parte das pessoas, a saída é ter um emprego fixo, uma casa, mulher e filhos, amigos e família. Outros se encontram na religião e em Deus. Eles encontram um recanto mais agradável no labirinto e lá fixam sua morada, para que possam descansar da vida dura. No geral, quase todos olham para os lados e se compadecem do seu semelhante, que lhes parece um errante infeliz e faz sempre as escolhas erradas. Mas há tantas saídas quanto há pessoas, e o labirinto é cheio desses "oásis" e dos seus ocupantes. Ninguém vê, no entanto, que se cada um tem a sua solução como a única certa, as soluções mutuamente exclusivas acabam excluindo-se umas às outras até não sobrar nenhuma (confesso que nesse ponto eu precisei um pouco mais de raciocínio pra continuar entendendo, depois descobri que o homem era um matemático e gostava desses golpes de lógica). Sabe como é? Você anda entre paredes estreitas, e aí acha uma praia enorme, que parece sem fim! A tendência é acreditar que enfim achou o que queria, mas, se você é um pouquinho mais curioso, começa a explorar os limites da sua praia e acaba como o personagem daquele filme que navegou no mar até bater numa parede pintada de horizonte. Você pula o muro e acaba dentro do labirinto de novo.

Bom, eu pulei tantos desses muros que não acredito que o labirinto tenha fim. Quando eu tinha um pouco mais que a sua idade, ainda acreditava que chegaria a um lugar, esperava que fosse um lugar fantástico, onde ninguém tivesse chegado antes, ou no mínimo um lugar que não fosse de mentira, que não fosse um paraíso artificial no meio do labirinto. Isso vem muito do narcisismo, muita vaidade, e o tempo vai varrendo isso da gente, inevitavelmente. Com o tempo, a possibilidade de nada ser verdadeiro anula as questões contra a mentira, torna o conceito de ilusão inaplicável e transforma a busca da verdade num caminho ridículo e infantil como todos os outros, se não mais. Porém, em certa altura do caminho não há mais como mudar; nunca vai tudo embora, e apesar de achar que o labirinto é infinito, toma tudo e ninguém jamais conseguirá sair dele, eu sempre me surpreendo olhando para o horizonte procurando uma saída, um final... Visito, de quando em vez, meus amigos de infância nos seus oásis, mas sou sempre um estrangeiro entre eles, um viajante que some de repente sem deixar rastros, um alienado e louco que está sempre com a poeira do deserto nos cabelos..."

08 fevereiro, 2007

Post infame de inauguração

  1. Este é um blog de ficção, que na realidade não existe e ninguém viu, caso alguém pergunte.
  2. Este é um blog expressamente incomunitário, inimputável, ilegível, indinheirado e inguinorante.
  3. Neste blog não se mencionará palavras ambíguas com dois, três ou até mesmo um só sentido.
  4. Me reservo ao direito de não observar quaisquer dos aspectos precedentes.