saiba que eu tenho approach

30 abril, 2007

Este post marca a minha iniciação na fotografia, o que significa que praticamente só serei visto em público com minha máquina pendurada no pescoço, à procura de animais mutantes exóticos, catástrofes naturais, OVNIs e cometas apocalípticos que virão para destruir a terra totalmente. Serei imbatível na captura de eventos emocionantes que só acontecem uma única vez no universo.

Por enquanto, pela absoluta falta de cometas em rota de colisão, vocês ficarão apenas com os registros da minha saída para visitas domiciliares do PSF. Logo de saída, esta pérola:


Se não fosse pela placa salvadora, jamais reconheceria um cão da raça Pitibú

Hora de pesar os guris:


As crianças curtem mesmo esse negócio de pesagem

Os ídolos sertanejos que fazem a loucura da mulherada:


O único deles de que eu não sou fã total é o Van Damme (ele canta muito mal)

Porém, o mundo ainda tem salvação:


Fotos e Operação de Repressão aos Crimes Linguísticos: Paulo Nunes



18 abril, 2007

Vendedor de colchões

— O senhor já teve a oportunidade de conhecer os novos colchões magnéticos Sonomag?
— Sono-o-quê?

Ele me entrega o prospecto do seu produto.

A SONOMAG foi buscar através de um processo científico altamente sofisticado o que nós chamamos de INFRAVEL, um dos maiores avanços da tecnologia, essa mistura fantástica de platina, titânio e alumínio, que é um dos muitos tipos de raios emitidos pelo sol nas primeiras horas da manhã...

(Como assim “essa mistura fantástica de platina, titânio e alumínio, QUE É um dos muitos tipos de raios emitidos pelo sol nas primeiras horas da manhã”? Desde quando o sol emite raios de ligas metálicas?)
...esses raios emitem ondas eletromagnéticas em torno de 4 a 14 microns “um tipo de raio INFRAVEL” idênticas aos raios infravermelho longo, eles fornecem benefícios reais e substâncias à saúde, absolutamente sem nenhum tipo de perigo associados a outros tipos de radiações.

(Tem certeza? Um colchão carregado como esse, com mais metais juntos que a Orquestra Sinfônica de Berlim! Será que esse tal de INFRAVEL não queima os rins da pessoa, destrói os espermatozóides, coisa do tipo?)
Principais benefícios: Elimina as toxinas do organismo através da quebra de moléculas de água no corpo humano, com a melhora da resistência e da circulação sangüínea,...

(QUEBRA DAS MOLÉCULAS DE ÁGUA? Que blasfêmia é essa?)
... renovação celular, redução do ácido lático e prevenção do envelhecimento precoce, proporcionando uma pele mais bonita e saudável ,e reduz a quantidade excessiva de acidez aliviando as dores musculares, enxaquecas e cólicas menstruais.

Terminei de ler e comecei as negociações.

— Poxa... Eu vou precisar reforçar a estrutura da casa para agüentar o peso desse colchão?
— O que importa? O colchão, com todos estes benefícios de tecnologia de ponta, fará você dormir o equivalente a doze horas em apenas quatro!
— Opa, agora isso me interessou! E vocês têm algum estudo sobre, você sabe, se eu quiser trazer uma menina para testar o colchão comigo... Será que ela ficaria magnetizada e infravermelhizada também?
— Você não sabe do que esse colchão é capaz!
— Vamos então ao que interessa! Me diga, como é que eu pago? Um colchão desses não deve sair por menos de quinhentos reais, não é? Mas eu tenho certeza que vocês têm um preço camarada pra quem quer comprar à vista...
— Senhor, um colchão magnífico como este é montado sobre uma chapa de celulose resinada, uma base de poliestireno, uma chapa laminada, poliuretano imprensado, uma pastilha de INFRAVEL cravejada de magnetos, um perfilado Tech-Foam e tudo isso em um conjunto de poliestireno resistente!
— Tem alguma versão dele com metade das chapas?
— Impossível sem alterar a qualidade indiscutível do produto.
— E quanto é que fica?
— Ele custa nada mais que três mil e quinhentos reais.
— Er... Vamos deixar esta conversa para outra hora? Acho que alguém está me chamando lá na recepção.
— Como assim?
— Bem, é que eu realmente não estou preparado para uma tecnologia tão avançada... Quem sabe quando lançarem os colchões de plutônio enriquecido?

Aura

— Mas Doutor, o senhor tem uma coisa que brilha, já te disseram antes que a aura de Jesus está ao seu redor?
— Sério? Mas... isso tem cura?

14 abril, 2007

Horóscopo

Falando comigo no msn, uma menina inventa de me dizer a seguinte coisa (obviamente vinda do bendito orkut) :

— "Sorte do dia: você terá um dia maravilhoso e encontrará alguém querido que não via há tempos".
— O que é isso?
— É do orkut!
— Por que eu nunca vi a seguinte previsão: "hoje você dará o último passo para o abismo da esquizofrenia e jamais se curará"?
— Hahahaha... A sorte do dia é pra ser alguma coisa boa!
— Bom, eu acho que o orkut deve começar a pensar nos traficantes de drogas que acessam o site. "Hoje a polícia invadirá a sua boca de fumo" seria mais verossímil que "a sua vida será longa e produtiva".
— Olha, eu tenho um site de horóscopo que é legal, pra mim sempre funciona, é super científico, você tem que dar os dados completos, a previsão é profissional...
— Profissional? Vou tentar.

É claro que eu fui lá de sacanagem. Meu plano foi o seguinte: coloquei todos os meus dados corretos, data de nascimento, hora, nome dos pais, quando caguei a primeira vez (dados estes que uma mãe absolutamente neurótica como a minha obviamente teria anotados num caderninho até hoje), todos estes acontecimentos memoráveis que supostamente definirão quem você será. Aí, obtive uma descrição completamente precisa da minha vida no período, que poderia significar desde uma dor de cabeça leve por causa de desentendimentos familiares até uma traição da namorada seguida de atropelamento e amputação dos braços. Em seguida, modifiquei o meu cadastro e alterei a minha hora de nascimento em 10 minutos. Nova previsão, com grande diferença. Por conta de 10 míseros minutos, eu até poderia ganhar na loteria! Fiquei realmente intrigado com isso.

— Venha cá, me diga uma coisa...
— Sim?
— Fiz meu cadastro no site de astrologia.
— Fez? Não é fantástico?
— É! Só fiquei com uma dúvida: será que a hora que eu nasci está certa?
— Como assim?
— Bom, é que eu mudei 10 minutos na minha data de nascimento e veio tudo diferente!
— É claro!
— Sim, mas como é que eu vou saber que eu nasci naquela hora mesmo?
— Não tá na sua certidão de nascimento?
— Tá. Mas tá um horário bem redondo, sabe, tenho uma ligeira desconfiança de que algum preguiçoso irresponsavelmente arredondou o número, não sabendo que arruinaria todas as minhas possibilidades com a astrologia no futuro! Sem contar os segundos, na certidão de nascimento não tem os segundos!!!
— E daí?
— E daí? Os segundos são importantíssimos! Sem contar as frações de segundo, com elas eu poderia determinar exatamente cada coisa da minha vida!!! Como é que será que isso é fixado, a hora do nascimento conta quando a cabeça sai toda, quando o corpo sai todo, ou quando corta o cordão umbilical? E se o parto for pélvico, conta a hora da saída da cabeça ou da bunda?
— Pára de maluquice, cara, os segundos não contam! Só os minutos mesmo!
— Certo, mas se o relógio da maternidade estiver atrasado? Será que pessoas que nascem no horário de verão lucram alguma coisa com isso?
— Rapaz...
— Meu Deus!!! Pior ainda! Se o relógio pode atrasar, qual será o relógio certo? Será que é um daqueles relógios atômicos que atrasam um segundo a cada bilhão de anos e que só existem na Alemanha? Já existe um relógio padrão da astrologia? Será que os obstetras já sabem disso? Temos que instituir o fuso horário astrológico, pra que todos tenham o direito de ter um mapa astral fidedigno!

A garota, nessa altura, já tinha desistido da conversa, e pareceu até meio aborrecida... Será que eu disse algo errado? Acho que ela devia estar num mau dia, sei lá, a lua deveria estar numa casa do zodíaco proibida, tipo uma rixa entre as constelações, sei lá...

13 abril, 2007

Fasemos frete

Mesmo no Capão, nossos oficiais à paisana realizaram outra operação bem-sucedida do Departamento de Polícia Ortográfica.


Mais uma apreensão de material lingüístico irregular realizada com a ajuda do nosso fotógrafo oficial Linsmar Dancon

10 abril, 2007

No Capão vaza água pelo ladrão - Parte II

Segundo dia

Tendo tomado o magnífico café da manhã da nossa pousada capônica, onde tudo é natural e orgânico (inclusive os pesticidas organofosforados usados nas frutas), partimos em direção à Cachoeira da Purificação, onde lavaríamos todos os pecados da alma e o produto de alguns dias sem tomar banho. O acesso é pela mesma estrada que leva ao Circo do Capão e pode ser feito na sua maior parte de carro, porém, é um trecho um pouco difícil, com subidas que ficam inacessíveis caso chova. Estando a pé, prepare-se para uma boa caminhada antes de chegar à trilha de fato.

A trilha que leva à Cachoeira da Purificação é do meu tipo predileto: caminho acidentado entre a mata que margeia o rio, com alguns trechos onde se atravessa o leito pelas pedras. O caminho pode ser feito todo pelo leito do rio, sobre as pedras, mas a caminhada se torna muito mais lenta e um pouco mais perigosa. Trilhas deste tipo são geralmente protegidas do sol forte, por causa da vegetação; quase planas, com trechos de escalada rápida com o auxílio de plantas como apoio e corrimão. São mais leves que grandes caminhadas abertas ou subidas de montanha, como na Cachoeira da Fumaça, exigindo mais equilíbrio e atenção que resistência aeróbica. Fizemos a trilha com um pessoal que já havia estado no local anteriormente, porém, caso seja a primeira vez, é altamente recomendado que se contrate um guia da região (ACV-VC: Associação de Condutores de Visitantes do Vale do Capão, o melhor lugar para informações sobre os passeios e atrações turísticas do local).

Águas congelantes


A queda da Cachoeira da Purificação forma um poço de cerca de 2,5 metros de profundidade no seu ponto mais central, com pedras no leito. A queda d’água não ultrapassa a altura de 5 metros, o ambiente é bonito, com uma ótima área para banho, de águas geladas. Como o acesso não é tão fácil, geralmente o local não superlota, mas você certamente terá companhia caso se trate de feriados nacionais. Ainda há uma trilha lateral à área do poço que leva à parte superior da cachoeira e a mais uma queda d’água acima, chamada de Cachoeira dos Duendes, porém é um trecho mais difícil e íngreme, só satisfazendo aos mais aventureiros, sem grandes atrativos.

Muitos desocupados vêm às águas da Purificação


Mais tarde, com as heranças de dois dias de trilha (calos e ferimentos nos pés), descansamos à tarde para conferir a noite do Capão. Objetivos da noite: comer todas as iguarias da região e conseguir maconha pura orgânica, sem os produtos malignos que o ser humano usa para entorpecer a sua mente.

Comemos nas duas noites em pizzarias diferentes, a primeira não terá seu nome mencionado gratuitamente como punição ao fato de nos deixarem esperando por mais de 30 minutos por nossa pizza, além de descobrirmos que faltou a rúcula num dos sabores. Porém, a pizza é boa. A outra, uma pizzaria de ambiente rústico, com mesas de pedra e sem talheres: a pizza vem cortada em fatias que lembram um brinquedo geométrico mosaico chamado Tangram. É claro que a explicação pra isso teria de ser algo exotérico tipo mandalas ou outra coisa que envolve hipnose de massas e meditação vegetativa, só que, quando a pizza chega, meditar é a última coisa que se quer: o local só oferece duas opções de sabores, o tradicional, que tem cenoura e molho pesto (além de outras coisas impronunciáveis) e a doce, que deve ter banana, fora algo mais que não me ocorre agora lembrar. A pizza é deliciosa, massa fina e crocante, come-se de mão, e além de azeite e molho shoyo (nada de meninos sebosos que entopem a pizza de maionese e catchup, artigos inexistentes no local) é possível acrescentar um mel especial saboroso, cujo segredo não revelarei para não estragar a surpresa de quem lá se aventurar.

Ainda há um local onde se come bem na cidade, que é uma casa de massas chamada Casa das Fadas, fica na estrada entre Palmeiras e Capão, já perto do vale. É difícil encontrar o local exato à noite, já que não há iluminação na estrada, mas o local é de primeira categoria, com uma lareira e um atendimento impecável por parte dos próprios donos do estabelecimento. Coisa chique, porém se paga muito menos que se pagaria numa cidade grande. E por fim, a iguaria mais exótica: o pastel de palmito de jaca, achado em todo o vale. Só não me pergunte o que é palmito de jaca.

No centro da vila, barraquinhas de hippies e rastafaris, vendendo as onipresentes bugingangas como colares de sementes, brincos, cristais, sabonetes de argila da região, roupas estampadas com Che Guevara, Buda e Timothy Leary, etc. Um grupo aqui tocando violão, outro acolá com flautas, um rapaz salta de vez em quando fazendo uma performance instantânea e improvisada de arte pura do Capão... Nada de carros com a porta do fundo aberta tocando Asa de Águia, e para garantir a paz local, cada vez que alguém ameaça exibir suas caixas de som superpotentes soa um alarme ensurdecedor e desce um time da SWAT que apreende imediatamente o veículo e detém os infratores para um longo interrogatório.

Todas as fotos desta série de posts foram tiradas por Linsmar Dancon


Só não consegui achar maconha. Será que tenho cara de polícia ou de repórter do Fantástico?

09 abril, 2007

No Capão vaza água pelo ladrão - Parte I

Primeiro dia

O Vale do Capão é um povoado pertencente à cidade de Palmeiras (a 20 Km da sede), na Chapada Diamantina. Quem vem de Salvador ou Feira de Santana em direção a Lençóis precisa andar mais um pouquinho pela BR 242 até achar a entrada de Palmeiras. Nada que um GPS não resolva.

O lugar é bastante atraente, como muitos da Chapada, com suas serras e cachoeiras que não acabam mais. Uma vez lá, será mais fácil encontrar paulistas, cariocas, sulistas, espanhóis, americanos, franceses, alemães, hindus, árabes, ucranianos, neo-zelandeses e zirconianos (nessa respectiva ordem) do que baianos. É que todos os remanescentes do movimento hippie, os desiludidos da vida, eremitas e reprovados das escolas de arte de todo o mundo vão ao Capão para ter uma vida roots, criando arte alternativa em contato com a natureza, com fontes inesgotáveis de água mineral, palmito de jaca e maconha. O Capão é a reserva ecológica mundial de rastafaris em processo de extinção, e somente lá você terá a oportunidade de presenciar performances brilhantes de homens barbudos vestidos de tanguinha de tigre correndo em círculos com tochas de fogo nas mãos, bradando o significado transcendental da arte.

Para a nossa total segurança, tiramos esta foto presos a cabos de aço transparentes



No primeiro dia, decidimos ir à Cachoeira da Fumaça. O caminho é uma trilha aberta na montanha, com cerca de 40 a 60 minutos de subida pesada (estejam em dia com seu cardiologista — ou com seu agente funerário) e mais uma hora de terreno praticamente plano. Lá, uma queda livre de 360m, onde, quando o rio não está muito cheio, a corrente de água desvanece no meio do ar por causa da força do vento. O espetáculo é fantástico, porém não pudemos ver devido à escassez de chuvas no período. Para ver a queda d’água é preciso deitar-se e arrastar-se até a borda do penhasco, pois o local tem muitos ventos maldosos...

Diálogos registrados no local:

Garota — Poxa, é aqui que quando está caindo água, o vento faz a água parar no meio do ar, não é?
Eu — É verdade, sem contar quando o vento faz a cachoeira correr ao contrário. Isso só acontece aqui na Fumaça e quando o Shiryu dos Cavaleiros do Zodíaco dá seu golpe Cólera do Dragão nas Cataratas de Rozan, em nenhum lugar mais.




Tia de 75 quilos subindo a montanha ao meio-dia — Falta muito, meu filho?
Eu, já na volta — Não, tia, coragem! Só falta agora a Ladeira da Angina e a Subida do Infarto, depois disso a senhora chega na cachoeira!

Later on the day... Estivemos na Cachoeira do Riachinho, a cerca de 4 Km do centro da vila, um lugar ótimo para um banho e natação. Na ida, demos carona a duas americanas, Andrea e Serena, amores de pessoa, que estranharam a miudez dos biquínis das mulheres e a falta de pêlos nos peitos masculinos anabolizados.



"Finja que não está olhando agora: eu fico com o mais alto, você com o outro"



Não perca, na próxima parte: a Cachoeira da Purificação e a crise mundial do abastecimento caponês de maconha.