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21 março, 2007

Raio-Z

Estava muito concentrado em bater pregos no armário e batendo na tábua mesmo, na falta de pregos, justamente para não ouvir os comentários sobre a novela misturados com o som da TV no último volume. O programa acabou, o pessoal se recolheu, e um rapaz aproveitou o espanto casual que mostrei quando me disse que era chamado também de Raio-X para entrar no discurso sobre o valor da sua profissão.

— Cara, o Técnico de Radiologia é uma profissão muito importante, só que não é dado o valor.
— É verdade, principalmente pela quantidade de radiação que ele recebe todos os dias, já vi gente crescendo uma segunda cabeça por causa disso.
— É verdade, cara. O raio-X é os olhos da medicina. Não conheço um médico que seja capaz de fazer o exame que eu faço. Sem o raio-X, como é que daria pra enxergar o pulmão, os ossos...
— Bom, a gente abre às vezes. É meio nojento, mas é colorido, pelo menos não é preto e branco!
— Não, rapaz, mas é realmente uma profissão fundamental na humanidade, parece que tem numa revista aí que é a invenção mais importante dos últimos tempos.

Vi que ele não entendeu que eu estava sacaneando e iria continuar hipertrofiando a importância da sua função, eu queria me concentrar no meu armário. Ou talvez as máquinas de raio-X sejam geringonças complicadíssimas que só poucos iluminados podem operar, graças a Deus que eles existem. De todo jeito, não tinha a menor intenção de saber.

— Pois é, colega, o raio x...
— Rapaz, isso vai acabar.
— Acabar?
— É. Você não tá sabendo não?
— Do quê?
— O raio-X já é uma coisa obsoleta. Os técnicos de radiologia vão ficar todos desempregados quando as primeiras máquinas de Raio-Z chegarem na cidade.
— Raio-Z? Cê tá curtindo comigo, cara?
— É sério! Pensei que você sabia, senão nem tinha te contado. É triste, mas acho melhor buscar outra profissão logo.
— Mas eu posso tomar outro curso...
— Nem adianta, as máquinas de raio-Z são todas automáticas, viram que a radiografia é algo muito importante pra ser operado por seres humanos. Você sabe, às vezes você tá com uma dor de barriga, ou brigou com a namorada, aí sua energia interfere nos raios-X, e aí tome uma bomba de raios na pessoa, é uma tragédia. O raio-Z é tão potente que atravessa até o chumbo, atravessa até mesmo o próprio raio-X.
— Mas se ele atravessa tudo, que material vai prestar pra ser o filme, a chapa que sai a imagem?
— Aí eu já não posso contar. É segredo de mercado.
— Conta aí, cara, eu tenho que me atualizar! Não posso perder esse emprego!
— Não, pense da seguinte forma: quando, no futuro, alguém construir um monumento às máquinas de raio-X, que foram as pioneiras no desenvolvimento da civilização, os antigos operadores serão a história viva, talvez seu nome saia até em algum livro!

Foi aí ele disse o que eu queria ouvir:

— Que nada, rapaz! Essa profissão é uma merda, você fica apertando um botão o dia todo, qualquer macaco faria isso! A gente ainda tem que tomar a porcaria de um curso, só pra dar dinheiro praqueles sacanas! Quem liga pra tomar raio-X na cara, todo mundo toma mesmo, quer dizer, eu aprendi lá no curso que os raio-X tão aí rolando nas esquinas, em todo lugar mesmo! E todo mundo vai morrer, não importa de quê. Do jeito que eu como água, nem vai demorar muito... Eu só trabalho ainda nessa viagem porque ainda não achei nada melhor, tá ligado? Mas aí, se você me der o canal do raio-Z quem sabe eu posso ficar na frente do mercado...

— Infelizmente eu não posso falar. É o tipo de informação que, se espalhar, cai a bolsa de valores da China, primeiro, aí no outro dia o gelo dos pólos derrete e quando procurarem quem foi que espalhou, eu tô perdido. Foi mal...

Ele saiu cabisbaixo pra dormir. Silêncio total. Achei uns pregos no chão, e aí pensei que poderia me vingar pelos tantos dias de TV altíssima na hora do meu sono...

04 março, 2007

Déjà vu

Déjà vu? Não, achei mesmo que já tinha visto algo assim antes, mas foi apenas a lembrança do trailer, que vi há alguns meses atrás.

Um filme interessante e que entretém. Porém, usa um argumento manjado sobre viagens no tempo, e antes da questão da viagem no tempo ser revelada, ainda parece pior (como em Inimigo do Estado), como todo filme Hollywoodiano que dá voz à paranóia americana de que o governo tem alguma forma louca de controle de todas as vidas, incluindo satélites e câmeras de vigilância impossíveis que conseguem ver tudo em 360 graus e cobrir todos os ângulos de uma cena.


Sempre saio destes filmes com um nó na cabeça com estas possibilidades físicas malucas e mal-exploradas, acho que isso acontece desde De volta para o futuro. Tipo: como pode haver um evento no presente que depende de que alguém volte do futuro para que ele aconteça? Você segue a linha do tempo normal, porém percebe que o seu presente só existe porque um eu do futuro voltou no tempo e ajeitou as coisas para que ele fosse possível, isto é, para que haja um certo presente, precisa haver antes um determinado futuro (!?!). Mas isso é coisa de gente pentelha, que não pode assistir a um filme em paz, sem deixar de lado coisas inúteis como lógica e física.


Saí do filme e notei na entrada da sala uma certa confusão. Em todo tipo de confusão sempre tem alguém falando ao celular, como se todos os bosta-secas do mundo tivessem advogados prontos a resolver os seus problemas à base da intimidação. Era mais divertido quando as pessoas eram menos metidas a importantes e resolviam as coisas na porrada.

Mas ao que parece, houve mesmo porrada! Um pentelho pré-adolescente pirraçou o sujeito até que ele não agüentou e sentou a mão no moleque. Crianças pirracentas geralmente têm pais complacentes; e parecem invencíveis, já que os únicos com direito legal de pô-los no seu lugar são um fracasso total no assunto. Mais um déjà vu. Eu já não gostava de crianças desde que eu era criança.

02 março, 2007


Gazes preza não é

Nosso amigo Zaratustra diria: Ter toda a gente o direito de aprender a ler é coisa que estropia, não só a letra mas o pensamento.

Mas, sem isso, não teríamos material para a mais nova série de posts deste blog, que começa com uma singela cartinha:

Dotor eu pesso que o senhor passa um remédio para minhas perna que está ichada.

E um remédio para minha barriga que eu sento uma gastura e tem vez que doi também que eu nem consigo comer muito pra icher

Gazes preza não é

Se o senhor não intendeu vem aqui na minha casa eu não fui lá porque eu não pude